Feira de Santana: Vendedor de água mineral passa em concurso da PM

Foto: Reprodução Acorda Cidade

Foto: Reprodução Acorda Cidade

Natural do município de Feira de Santana, Daniel Santos Oliveira, 27 anos de idade, é morador do bairro SIM, e atualmente trabalha vendendo água na sinaleira do cruzamento das Avenidas Eduardo Fróes da Mota com Artêmia Pires.

Muito antes de se tornar um vendedor ambulante, e agora um policial militar do estado da Bahia, Daniel tinha o desejo de ter a graduação do ensino superior na área da engenharia, mas foi servindo ao Exército, que o militarismo foi despertando um interesse maior pelo jovem, que na época ainda tinha 18 anos.

Ao Acorda Cidade, Daniel contou sobre o sonho de se tornar um policial militar, e como se sente realizado, por todos os altos e baixos que passou durante toda a sua trajetória de vida.

"No ano de 2013, eu tive a honra de servir às Forças Armadas no 35º Batalhão de Infantaria e quando eu entrei lá, foi como se eu tivesse caído de paraquedas, porque eu nãos sabia nada sobre o militarismo e nem queria servir ao Exército, mas os planos de Deus, não são como os nossos. Quando eu entrei lá, eu falei comigo mesmo que daria o meu melhor como sempre fiz, desde a época de colégio. Passei pelo campo básico, comecei a gostar do militarismo, me identifiquei, entendi que o militarismo pregava a necessidade de defender a sociedade, mas eu também sempre tive a vontade de fazer uma universidade, fazer engenharia. Eu já tinha trancado o meu terceiro ano para cumprir o período obrigatório do Exército, e quando foi no ano de 2014, que concluir o ensino médio no Ecassa", explicou.

Após servir o Exército, o que era um desejo, começou a se tornar realidade. Daniel conseguiu uma bolsa de estudos para ingressar no Centro de Educação Tecnológica do Estado da Bahia (Ceteb), fazendo o curso de Edificações, mas foi durante o curso técnico que a saudade em servir o Exército tomou conta.

"Eu consegui uma bolsa de estudos no mês de fevereiro de 2015, era o curso de Edificações, e ali, era a base da engenharia e falei, vai ser aqui que irei galgar meus primeiros passos onde eu quero chegar, que é a engenharia civil. Foi a partir daí, que eu encontrei um meio para custear os meus estudos naquele momento, que era vendendo água, isso porque eu sempre tive a curiosidade quando via as pessoas vendendo, até que um dia questionei uma pessoa, se realmente dava para custear os gastos, e um rapaz me disse que dava para sobreviver. Lembro que na época eu peguei R$ 12 emprestado na mão de uma amiga e comprei dois kits de água mineral e comecei a vender em um domingo. As vendas foram tão boas, no final do dia, eu vendi cinco kits, mas fui continuando neste comércio. Mas durante o curso, batia aquela saudade, o gosto pelo militarismo e um certo arrependimento em ter saído do Exército. Já se aproximando do final do curso, praticamente no mês de novembro de 2016, o governador do estado da Bahia, Rui Costa, anunciou que iria lançar o concurso da Polícia Militar no ano de 2017, foi quando meus olhos brilharam e passei a estudar ainda no final do ano de 2016. Realizei a prova, mas não atingi a nota de corte que era necessária, fiquei triste porque era algo que eu desejava muito e continuei tentando. Depois desse concurso em 2017, eu ainda fiz a tentativa na Paraíba, Maranhão, Tocantins, Alagoas, Pernambuco, São Paulo, no qual eu passei por duas vezes, mas infelizmente fui reprovado em uma das etapas, que era o teste psicológico", contou.

Com bastante persistência, a palavra 'desistir', nunca fez parte da vida de Daniel, que continuou estudando e no ano de 2019, fez um novo concurso para a Polícia Militar do Estado da Bahia.

"O governador anunciou um novo edital no ano de 2019, e na época eu não tinha como custear os cursos, então um amigo meu que tem o projeto quadrivium, falou comigo que apenas soltaria minha mão quando eu passasse no concurso público e que fosse da Polícia Militar do Estado da Bahia. Então eu tive essa oportunidade de estudar, virava noites, cheguei a fazer a prova, mas logo veio a pandemia, saiu o resultado, eu fui aprovado, mas o concurso ficou suspenso. No final do ano passado, o governador anunciou que iria chamar os aprovados, e justamente neste dia, no qual seria o dia mais feliz da minha vida, acabou sendo o dia mais triste porque eu perdi a minha mãe para o lúpus. Nessa primeira homologação, o governador chamou apenas mil policiais e eu fiquei na segunda turma. Quando realmente saiu o meu nome no Diário Oficial, o pessoal começou a ligar, mandar mensagem, eu não acreditava que estava sendo convocado e ali sozinho no meu quarto gritando, as lágrimas descendo, agradecendo a Deus por tudo que estava acontecendo naquele momento e foi aí que eu tive que correr contra o tempo para separar toda a documentação e realizar a entrega", afirmou Daniel ao Acorda Cidade.

No total, Daniel realizou 27 concursos públicos para ingressar na segurança pública. Desta vez, ele declarou que a ficha ainda não caiu.

"Foram exatamente 27 tentativas, e três eu consegui a aprovação, duas na Polícia Militar do estado de São Paulo, mas como informei, fui reprovado no psicológico e agora aqui na Bahia. Nesse momento, eu só estou esperando a data da matrícula, porque praticamente já sou um policial militar, só falta a matrícula, mas a ficha ainda não caiu. Eu digo que estou vivendo um momento de êxtase, porque tem hora que me pego sorrindo assim do nada de tanta felicidade", contou.

Comércio informal em Feira de Santana

Através da venda de água mineral na sinaleira, Daniel informou à reportagem do Acorda Cidade que chegou a ter uma renda de até R$ 1.200 por mês, mas com a chegada da pandemia, esse valor caiu para cerca de R$ 800.

Foto: Ed Santos/Acorda Cidade

"Eu chegava a fazer R$ 70 por dia, e de forma mensal conseguia lucrar até R$ 1.200, mas aí quando estourou a pandemia, foi um período mais complicado, porque as vendas caíram, eu chegava a vender R$ 70 e depois eu só retornava para casa com R$ 25, R$ 30, o que dava em média de R$ 800. Então eu apertava de um lado, conseguia me alimentar ali, aqui, mas Deus sempre colocou pessoas boas em minha vida para abençoar com cestas básicas", explicou.

Durante este período em que vendeu água, Daniel observou muito o preconceito por parte de muitos condutores, que segundo ele, ao se aproximar, suspendia os vidros das janelas.

"Eu posso dizer que as vezes somos bastante oprimidos, porque infelizmente temos restrições da prefeitura em ter o acesso para vender, e dentro desse período que vendi água, eu pude observar muitas pessoas que nos julgavam, muitas vezes até pela própria aparência, aquele preconceito e quando iria apenas oferecer a água, as pessoas suspendiam os vidros, sem ao menos observar que ali é apenas uma pessoa querendo trabalhar, não acho que uma pessoa que fosse pra te assaltar, estaria ali no semáforo em pleno meio-dia de domingo a domingo", afirmou.