Bárbara Gomes: de Santo Estêvão ao Egito para entregar carta de jovens a Lula

Recém-formada em Engenharia de Energias, jovem que entrou na universidade com ajuda de cotas se apaixonou por ativismo ambiental

Foto: Reprodução Metrópoles

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O Globo - Bárbara Gomes, de 26 anos, fez um périplo até chegar ao balneário egípcio de Sharm el-Sheikh. Saiu de sua casa em Santo Estêvão, cidade a 40 km de Feira de Santana, para Salvador. De lá, pegou um avião para Guarulhos, de onde embarcou para o Egito com escalas em Doha e no Cairo. Saiu em 2 de novembro e desembarcou no dia 4 para participar de sua primeira COP, a conferência climática da ONU e tentar fazer com que as autoridades ouçam a juventude.

A engenheira de energias recém-formada pela Universidade Federal do Recôncavo da Bahia (UFRB) — ela pegou seu diploma no meio deste ano — é também ativista ambiental. Veio ao Egito junto com outros 18 integrantes do grupo Engajamundo, organização da juventude que atua para fazer frente a problemas sociais no Brasil. Na última quinta, foi uma das lideranças da sociedade civil que participou de um encontro com o presidente eleito Luiz Inácio Lula da Silva.

Sentada entre o convidado de honra e o ex-prefeito de São Paulo, o ministeriável Fernando Haddad, Bárbara entregou a Lula uma carta com 13 exigências feitas por 16 organizações de jovens com pedidos a serem implementados dentro da agenda climática e ambiental. A juventude precisa ser ouvida, disse, porque é a ela que o futuro pertence:

— O clima está totalmente ligado ao nosso futuro. Nós fazemos planos hoje e queremos poder realizá-los daqui a 20, 30 anos. Se não houver uma política climática, tudo isso estará comprometido — disse Bárbara Gomes ao GLOBO.

Filha de pais que não concluíram o ensino fundamental, Bárbara entrou na universidade com ajuda da política de cotas em 2014. Já tinha interesse por questões sociais desde adolescente, mas foi no ensino superior que "descobriu um novo mundo" ao se envolver com o ativismo político em um momento conturbado para a política brasileira:

— De onde eu venho, os jovens não participam muito. Você é excluído, não tem direito a falar de nada. No interior ainda há aquela política coronelista, em que só grandes famílias participam e você vota porque seu pai trabalha na prefeitura, então é obrigada a votar naquela pessoa, numa troca de favores.

Os jovens do Engajamundo, conta ela, fizeram uma campanha para arrecadar dinheiro e poder trazer suas demandas para o Egito. A sorte foi que o grupo conseguiu levantar um pouco mais de dinheiro do que o necessário, já que não contava com os preços inflacionados da comida dentro do centro de convenções.

A principal demanda da carta entregue ao presidente, reforçada por Barbara, é a criação de um Conselho Nacional de Jovens. O objetivo é que seja um fórum com atuação interministerial e deliberativa, e com acesso a um orçamento específico para ações diretas nos territórios e comunidades.

— Espero que o governo dê espaço para a juventude atuar, mas dê poder também. Não adianta nada nós estarmos lá e sermos meros figurantes — disse ela.

O órgão, ressaltou, faz-se ainda mais necessário após os reveses dos últimos quatro anos e a falta de recursos e espaço para a juventude. A eleição de Lula, disse ela, é um "alívio" principalmente porque agora há possibilidade de conversa:

— Agora sabemos que poderemos ter um diálogo que não houve nos últimos quatro anos. Nós tentamos ter contato com os ministros do Ministério do Meio Ambiente [Joaquim Leite e o ex-ocupante da pasta, Ricardo Salles], mandamos diversos ofícios, e não houve tratativa.

Independentemente de quem ocupasse o cargo, afirmou ela, haveria a tentativa de contato, ressaltando que "não é porque é o Lula" que há uma tentativa de aproximação, mas porque entendem que há necessidade de o próximo ocupante do Planalto "se comprometer com o clima":

— São decisões que precisam ser tomadas agora, não podemos esperar.