Páscoa com menos chocolate e ovos mais caros: impacto da alta do cacau no Brasil

Foto: Reprodução/ Vitor Rodrigues/O ECO

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Com a chegada da Páscoa, os consumidores brasileiros podem se deparar com um cenário menos doce: menos ovos de chocolate nas prateleiras e preços mais altos. A razão? O aumento expressivo do preço do cacau, impulsionado por problemas climáticos nas lavouras africanas, principais produtoras do fruto no mundo.

Em dezembro de 2024, a tonelada de cacau atingiu US$ 11.040 na Bolsa de Valores de Nova York, uma alta de 163% em relação ao mesmo período de 2023. A África, que responde por 70% da oferta global, enfrenta desafios na produção, especialmente na Costa do Marfim, responsável por 45% do cacau mundial. Como o cacau é uma commodity com preço definido globalmente, o impacto afeta diretamente o chocolate brasileiro.

Menos ovos e preços mais altos

Para evitar que o aumento do cacau fosse repassado ao consumidor, as indústrias adotaram estratégias como a redução do tamanho das embalagens e a ampliação do mix de produtos. No entanto, com a chegada da Páscoa, a situação se complica, pois a amêndoa usada para fabricar os chocolates da data comemorativa foi adquirida no segundo semestre de 2024, quando os preços estavam no auge.

Além disso, a produção de ovos de chocolate será reduzida. Segundo a Associação Brasileira da Indústria de Chocolates, Cacau, Amendoim, Balas e Derivados (Abicab), serão produzidos cerca de 45 milhões de ovos, uma queda de 22,4% em relação aos 58 milhões fabricados em 2024.

Deficiência na produção de cacau

A produção mundial de cacau enfrenta seu terceiro ano consecutivo de déficit. Desde a safra 2021/2022, o mundo deixou de produzir 758 mil toneladas do fruto, de acordo com a Organização Internacional do Cacau (ICCO). O Brasil, que responde por cerca de 4% da produção global, também sofre com esse déficit. Em 2024, o mercado brasileiro demandou 229 mil toneladas, mas a produção interna foi de apenas 179.431 toneladas, uma queda de 18,5% em relação a 2023.

A moagem de cacau também caiu, totalizando 253 mil toneladas em 2024, um reflexo da menor demanda devido ao aumento do preço do chocolate.

Estratégias da indústria e perspectivas para a Páscoa

Com a escalada dos preços, os fabricantes de chocolate vêm adotando medidas para minimizar os impactos. Dados do Índice Nacional de Preços ao Consumidor Amplo (IPCA), do IBGE, mostram que nos 12 meses até janeiro de 2025, o chocolate em barra e os bombons encareceram 16,53%, enquanto o achocolatado subiu 12,49%.

A indústria vem apostando em novos formatos e sabores. Francisco Queiroz, analista da consultoria Agro do Itaú BBA, destaca que, apesar de o chocolate ao leite seguir como preferência dos brasileiros, o mercado tem investido em combinações com frutas, amendoim e pistache, diversificando as opções disponíveis.

Segundo Daniel Roque, vice-presidente da Cacau Show, os produtos para a Páscoa de 2025 não tiveram redução de tamanho. Ele afirma que quando isso ocorreu no passado, foi apenas para melhorar a experiência de consumo. Além disso, ele ressalta que a introdução de novos sabores não está relacionada ao preço do cacau, mas sim à demanda dos consumidores.

Diante desse cenário, os consumidores devem se preparar para uma Páscoa mais cara e com menos chocolate, reflexo das dificuldades enfrentadas no setor cacaueiro global e no mercado nacional.

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