Ibovespa recua 1,32% e chega ao menor nível desde julho

A aversão global a risco se impôs nesta primeira sessão da semana, o que se refletiu em perdas espraiadas da Ásia à Europa e aos EUA, especialmente acentuadas em mercados como os de Alemanha (-4,37%) e Reino Unido (-3,38%). O Ibovespa também sentiu os reflexos globais e fechou nesta segunda-feira (21) em baixa de 1,32%, aos 96.990,72 pontos, o menor nível desde 3 de julho, quando encerrou aquela sessão aos 96.764,85 pontos. O índice chegou na mínima de 95.820,34 pontos. Em dia de vencimento de opções sobre ações, o giro financeiro foi reforçado, a R$ 36,5 bilhões. O índice acumula agora perda de 2,39% no mês e de 16,13% no ano.

A economia global foi diretamente afetada pelo escândalo de lavagem de dinheiro envolvendo grandes bancos, entre os quais Deutsche Bank, HSBC, Standard Chartered e JPMorgan. Além do segmento financeiro, as ações do setor de viagens, especialmente companhias aéreas europeias, espelharam outro fator de risco que prevaleceu na sessão: a possibilidade de uma segunda rodada de lockdown após a retomada da Covid-19 durante o verão europeu, que chega ao fim nesta terça-feira (22). A cautela quanto aos efeitos de ambos os fatores sobre a retomada em curso na economia global contribuiu para que os contratos futuros de petróleo fechassem o dia com perdas de cerca de 4%. O cenário conturbado resultou também em aumento da demanda por proteção em dólar, que costuma manter correlação negativa com os preços de commodities nele denominadas, como o combustível fóssil e o minério de ferro. Assim, o dia foi especialmente negativo para as ações de Petrobras (PN -3,46% e ON -3,01%) e Vale (-2,69%), com perdas relativamente moderadas em outro segmento de peso no Ibovespa, o de bancos, no qual o ajuste negativo chegou a 1,76% (Bradesco ON).

"O Ibovespa vinha defendendo bem a linha dos 98 mil pontos, perdida na sessão, em razão desta aversão a risco desde o exterior. Mas as perdas se mostraram moderadas para o dia, com o desempenho positivo de ações do setor de varejo eletrônico, voltados à economia doméstica, como B2W (+4,01%), Magazine Luiza (+1,77%) e Lojas Americanas (+0,31%)", observa Stefany Oliveira, analista da Toro Investimentos. "A partir do exterior, houve uma correção iniciada há duas semanas no setor de tecnologia e que alcançou no período seguinte a economia real, a partir de reprecificações do petróleo ante novas estimativas, mais fracas, da Opep sobre a demanda global", aponta Ilan Arbetman, analista da Ativa Investimentos. "Com as preocupações que emergiram hoje sobre bancos – setor-chave para a expansão das economias e empresas – e a possibilidade de novo lockdown, em razão da ressurgência do coronavírus especialmente na Europa, tivemos hoje dois fatores que, fato raro, obscureceram o desenlace positivo sobre o Tik Tok e o WeChat nos EUA, um desdobramento na guerra comercial que normalmente não passaria em branco."

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Arbetman chama atenção em particular para o setor aéreo, duramente atingido desde o início da pandemia – e que tende a se complicar caso haja uma retomada das iniciativas de distanciamento social e insulamento de países, neste pós-verão no Hemisfério Norte. No Brasil, as empresas aéreas têm um terceiro trimestre marcado por renegociações trabalhistas e de aeronaves, assim como de dívidas com credores, e uma reversão no processo de normalização das economias, às vésperas do trimestre decisivo do ano, o quarto, pode agravar a liquidez e o caixa das empresas, aponta o analista da Ativa. "Os dados mais recentes da Anac sobre oferta e demanda sugerem que as projeções das empresas para o fim de ano, ponto alto do setor por causa da sazonalidade, podem estar muito otimistas", acrescenta. Nesta segunda-feira, as ações de Gol (-8,46%) e de Azul (-7,80%) seguraram a ponta negativa do Ibovespa, logo à frente de Embraer (-4,79%) e Ecorodovias (-4,54%). No lado oposto, B2W (+4,01%), SulAmérica (+2,86%), Weg (+2,27%) e Magazine Luiza (+1,77%) foram os destaques.

*Com Estadão Conteúdo