Da poesia à crítica literária: a incrível trajetória do poeta português Pedro Lopes Adão

Foto: Arquivo pessoal

Foto: Arquivo pessoal

Em uma entrevista exclusiva ao site Página da Notícia, o poeta português, Pedro Lopes Adão compartilhou os detalhes marcantes de sua jornada, proporcionando aos leitores uma visão aprofundada de sua expressão literária e das complexidades que a permeiam.

Nascido no Porto em 2001, Pedro Lopes Adão dedica-se ativamente à escrita desde os 15 anos, inicialmente explorando a poesia e conquistando prêmios em concursos acadêmicos. Expandindo seus horizontes literários, aventurou-se na Crítica Literária como uma forma de desafiar as neuroses poéticas, revelando-se um argumentador perspicaz nesse campo.

Autodenominando-se o novo "filho maldito" das letras portuguesas, Pedro Lopes Adão traz consigo uma perspectiva única e provocativa. Atualmente colaborando com a revista Devaneio, tornou-se uma voz significativa no cenário literário contemporâneo.

Confira alguns trechos da entrevista:

Página da Notícia: Como foi o seu início na escrita aos 15 anos? Alguma influência específica o inspirou a começar com poesia?

Pedro Lopes Adão: Iniciei-me com o meu caderno nos tempos livres no claustro do Colégio de Ermesinde, onde fiz o ensino secundário, mesclado pelas leituras de António Nobre e a beleza da arquitectura que me albergava. Foi determinante essa leitura e a de outros poetas decadentistas e simbolista.

Página da Notícia: Como a sua jornada na escrita evoluiu para incluir a crítica literária? Houve alguma obra ou autor que o motivou nesse sentido?

Pedro Lopes Adão: A crítica literária surgiu, numa primeira instância, por uma necessidade de leitura, isto é, muitas das novidades editoriais que gostava de ler eram-me inacessíveis pelos preços exorbitantes - - por muito tempo tive os meus pais desempregados, o que tornava difícil gastar dinheiro em livros, só tínhamos dinheiro para comer e eu estudar - -, ao que apliquei a minha disponibilidade a vários editores para fazer críticas literárias para pequenas revistas. Os livros começaram a chegar aos magotes a casa e cheguei ao ponto de recusar mais, pois já não dava vazão! Agora só faço espaçadamente e por gosto; felizmente as economias compuseram-se o suficiente para lá ir comprando um livrito por semestre.

Página da Notícia: Pode compartilhar uma experiência significativa ao colaborar com meios de divulgação cultural, como a revista Devaneio ou a Revista Kametsa?

Conhecer seres humanos maravilhosos. A Kametsa foi de relâmpago, mas permaneço na redação da Devaneio até hoje: inclusive, o primeiro artigo que escrevi foi para eles (sobre o romance 'Para Sempre', de Vergílio Ferreira). É uma revista de Sines, aqui em Portugal, focada exclusivamente a dar o melhor de si sem retorno nenhum. Aliás, os fundadores são 'ilustres' lá, pelo papel cultural que desempenham, e isso, estou-o crendo, já é uma forma de remuneração.

Página da Notícia: Como foi a experiência de ser convidado para integrar a antologia "110 Anos, 110 poetas"? Qual foi a importância desse projeto para você?

Pedro Lopes Adão: Muitos poetas, amiúde, editam antes de serem antologiados. Comigo foi justamente o contrário. A Prof. Isabel Morujão estava a fazer um livro com a ''prata da casa '', autores ilustres da Universidade do Porto, e recebi o convite como poeta em ascensão; ainda hoje não encontro palavras para descrever esta sensação, uma vez que, nesse mesmo livro, além dos colossos, encontro-me curiosamente com o nome do meu primeiro editor, o Jorge Reis-Sá, quiçá coincidência do destino. Sem dúvida que me deu mais ânimo para prosseguir na escrita.

Página da Notícia: Como surgiu a ideia de organizar a antologia "Alguns ensaios de quê?: Em homenagem a Ana Luísa Amaral"? Qual é o papel da Nina nesse contexto?

Pedro Lopes Adão: "Alguns ensaios de quê?" surge poucas semanas depois da notícia do falecimento da Prof. Ana Luísa Amaral, que cheguei a encontrar várias vezes em conferências ou, de esguelha, na Faculdade de Letras. A sua partida prematura, e a perplexidade como o país tende a esquecer os seus agentes culturais, levou-me a tomar a posição radical de, em menos de um ano, para poder assinalar o seu falecimento, dar ao prelo um livro em sua homenagem.

Felizmente um punhado de gente boa ouviu este meu devaneio e saltou de cabeça no projeto, das quais a Nina Maria, que desconhecendo a obra da Prof. Ana Luísa, se encantou e produziu um belíssimo ensaio. A Nina juntou à diversidade portuguesa a inteligência brasileira no livro, porque todos os ensaístas são de quadrantes diferentes, tornando tudo mais rico.

Página da Notícia: Agora que já publicou "Palavra em Queda" e "Os Amorosos & Os Odiados",como descreveria a evolução do seu estilo literário ao longo dessas obras?

Pedro Lopes Adão: O meu estilo? Sempre pensante, um tanto soturno, preocupado com a existência humana. A influência vem do decadentismo, sem dúvida, mas, com 'Ars Longa, Vita Brevis', por exemplo, Maria João Cantinho viu um lado mais metafísico. Será talvez por aí, agora, quem sabe.

Página da Notícia: Como a sua entrada na Faculdade de Letras da Universidade do Porto influenciou o seu trabalho literário e a participação em revistas como a Revista Alegre?

Pedro Lopes Adão: Influenciou o suficiente para perder a timidez. O resto fez-se fora.

Página da Notícia: Quais desafios enfrentou ao explorar diferentes formas literárias, como poesia e ensaio crítico, em sua carreira?

Pedro Lopes Adão: Os desafios surgiram, maior parte das vezes, sob forma de juízos. Não direi nomes, mas algumas vedetas da literatura já mandaram as suas postas em relação ao meu trabalho, sendo que elas apelam à minha jovem idade.

Normalmente corre-lhes mal porque não leram o meu trabalho: esfumam-se os argumentos.

Página da Notícia: Pode compartilhar um momento especial ou uma influência marcante que Ana Luísa Amaral teve em sua abordagem literária?

Pedro Lopes Adão: Acho que vou guardar para mim.

Página da Notícia: Algum projeto literário futuro em mente? Alguma temática ou gênero que deseja explorar mais profundamente em suas próximas obras?

Neste momento tenho muitos projetos. Posso dizer que para este ano sairá um livro a celebrar o centenário do poeta António Ramos Rosa e, atenção, tenho na manga algo inédito. Nas minhas próximas obras poderei dar espaço ao conto, à novela ou ao romance. Depende, depende. Por ora, poesia!