Pessimismo com atraso na vacinação afunda Ibovespa; dólar sobe

O pessimismo com os entraves na importação de insumos para a produção de vacinas contra a Covid-19 em território nacional e o avanço da pandemia contamina o mercado financeiro brasileiro nesta quinta-feira, 21. Após o bom humor com o início da distribuição de vacinas no domingo, 17, os investidores já começam a precificar os impactos que o atraso da continuidade da imunização terão na retomada da economia em 2021. Em paralelo, há apreensão com o aumento do número de infecções e a possibilidade do retorno de medidas mais duras de isolamento social. Apesar do otimismo internacional com a posse de Joe Biden, a Bolsa de Valores brasileira opera em queda. Às 12h26, o Ibovespa, principal índice da B3, registrava baixa de 0,84%, aos 118.639 pontos. O pregão desta quarta encerrou com recuo de 0,82%, aos 119.646 pontos. O cenário também inverteu o dólar, que sobe após passar a maior parte da manhã em queda. A moeda norte-americana avançava 1,06%, a R$ 5,368. A divisa chegou a bater máxima de R$ 5,372, enquanto a mínima não passou de R$ 5,232. A moeda encerrou a véspera com queda de 0,63%, cotada a R$ 5,311. Os investidores também analisam a decisão do Banco Central em derrubar o foward guidance, também chamado de prescrição futura, sinalizando o fim da política de manutenção da Selic ao patamar mais baixo da história. O Comitê de Política Monetária (Copom) anunciou nesta quarta, 20, que a taxa básica de juros continua em 2% ao ano, o que já era esperado pelo mercado financeiro.

A continuidade da campanha de imunização brasileira está ameaçada pela falta de insumos para a produção em território nacional das vacinas aprovadas pela Agência Nacional de Vigilância Sanitária (Anvisa). O principal entrave é a importação da matéria-prima após a falta de entendimento entre autoridades brasileiras e produtores chineses. Nesta quarta, 16 governadores encaminharam um ofício pedindo que Bolsonaro adote um “diálogo diplomático” com Índia e China visando “assegurar a continuidade do processo de imunização no país.” O governo federal também reagiu e afirmou que “vem tratando com seriedade todas as questões referentes ao fornecimento de insumos farmacêuticos para produção de vacinas (IFA)” e ressaltou que é “o único interlocutor oficial com o governo chinês”. O posicionamento oficial ocorre horas após o presidente da Câmara dos Deputados, Rodrigo Maia (DEM-RJ), ter se reunido virtualmente com o embaixador da China no Brasil, Yang Wanming, para tratar sobre o envio de matéria-prima necessária para a fabricação dos imunizantes contra a Covid-19 ao país. “O governo chinês vai trabalhar para acelerar a chegada desses insumos. O diálogo com o governo de São Paulo e o Instituto Butantan vai fazer com que a gente consiga avançar o mais rapidamente possível. A decisão do governo chinês é atender a população brasileira”, disse Maia após a agenda. Além dos entraves para produção dos imunizantes, a alta de infecções preocupa autoridades sanitárias. Somente em São Paulo houve aumento de 34% de mortes nos últimos 20 dias. Já o número de novos casos saltou 37%, pressionando ainda mais o sistema de saúde. Ao todo, mais de seis mil pacientes estão internados em unidades de terapia intensiva e a taxa de ocupação de leitos de UTI no Estado está em 70% e na Grande São Paulo, 70,5%. Essas taxas representam o limite para a reclassificação de regiões para a fase laranja do Plano São Paulo.

Ainda no cenário doméstico, o Copom anunciou nesta quarta a manutenção da Selic a 2% ao ano. A medida já era esperada pelos analistas, que focaram as atenções na retirada do foward guidance, a política da autoridade monetária de manter os juros baixos. Apesar do anúncio, técnicos do BC ressaltaram que a derrubada da medida não significa o aumento automático da taxa básica de juros da economia brasileira. O mercado espera que a Selic encerre o ano a 3,25%, segundo o Boletim Focus divulgado nesta segunda-feira. Esta foi a quarta reunião seguida que o Copom manteve a taxa de juros congelada a 2%.