Coronavírus pode infectar e danificar o cérebro, diz estudo brasileiro

Foto: CNN (11.set.2020)

Foto: CNN (11.set.2020)

O novo coronavírus pode infectar e danificar células do tecido cerebral, mesmo em casos leves, segundo um estudo brasileiro financiado pela Fundação de Amparo à Pesquisa do Estado de S. Paulo.

A pesquisa foi publicada nessa terça-feira (13), na revista científica MedRXiv, e foi conduzida por doutorandos da Universidade de São Paulo e pela Universidade Estadual de Campinas (UNICAMP). No entanto, o estudo ainda não foi revisado por outras entidades médicas.

De acordo com a pesquisa, os pacientes com Covid-19 podem apresentar sintomas neurológicos,
sobretudo ansiedade e comprometimento cognitivo. A descoberta foi observada mesmo em indivíduos com sintomas leves ou assintomáticos.

O córtex, região do cérebro mais rica em neurônios e responsáveis por funções importantes como memória, atenção, consciência e linguagem, também pode ser afetado.

A pesquisa também identificou dano cerebral em 5, ou seja, em 19% dos 26 pacientes analisados que morreram pela doença. Os astrócitos, células abundantes do sistema nervoso responsáveis por parte do metabolismo humano, foram os tecidos mais infectados pela Covid-19.

"Observamos nesses cinco casos sinais de necrose e de inflamação, como edema [inchaço causado por acúmulo de líquido], lesões neuronais e infiltrados de células inflamatórias. Mas só tivemos acesso a uma pequena parte do cérebro dos pacientes, então, é possível que sinais semelhantes também estivessem presentes nos outros 21 casos estudados, mas em regiões diferentes do tecido", explicou Thiago Cunha, professor da FMRP-USP e integrante do Centro de Pesquisa em Doenças Inflamatórias (CRID), em comunicado.

Já em outra pesquisa, conduzida na Faculdade de Ciências Médicas (FCM) da Unicamp, observou-se que ? de 80 voluntários ainda reportavam sintomas neurológicos 60 dias após infecção pelo novo coronavírus. As principais queixas foram dor de cabeça (40%), fadiga (40%), alteração de memória (30%), ansiedade (28%), perda de olfato (28%), depressão (20%), sonolência diurna (25%), perda de paladar (16%) e de libido (14%).

Na avaliação do professor coordenador Cunha, ainda falta descobrir de que forma o novo coronavírus chega ao sistema nervoso central, sobretudo nos astrócitos.